Memória Descritiva

Desde sempre que um jardim é um desafio, tanto para o homem como para a natureza. Se, por “imagem mental” inicial e remota no tempo, associamos geralmente estes recantos especiais a espaços (mais ou menos) contidos, repletos de plantas (mais ou menos autóctones), com forma adequada ao espaço disponível; ao que a mãe-natureza coloca à nossa disposição (solo – nutrientes – água – luz) e ao trabalho do próprio homem, a nossa proposta pretende, associada ao tema da exposição deste ano (as artes no jardim), explorar um aspecto transversal, às artes e a todos os espaços verdes – a luz. Duas premissas estão, assim, claramente na génese da nossa proposta:

• uma obra de arte (na maioria das suas possíveis formas) ganha dimensão, importância e visibilidade muito graças à interpretação que a acuidade visual faz, em cada um de nós, da quantidade de luz que interage com os objectos dispostos no espaço que nos rodeia, atravessando-os ou sendo reflectida por eles.

• um jardim não faz sentido sem a presença do homem – na realização, na manutenção e, especialmente, na fruição.

Propomos para a composição do espaço escolhido três tipos de leitura complementares:


1. A divisão do espaço original em quatro espaços mais pequenos, que nos trazem à memória os 4 rios do paraíso presentes no “Éden” primordial, segundo os 4 pontos cardeais, que estão na base de qualquer sistema de orientação, criando-se representantes das 4 estações climáticas que, nestas latitudes, marcam o evoluir da natureza – Primavera, Verão, Outono e Inverno. Para a divisória propomos um perfil de madeira ou outro material considerado adequado na fase de implementação. Para a cobertura do solo propomos o uso de materiais que transmitam quatro tonalidades diferentes, representativas das estações referidas, pressupondo-se igualmente o uso de uma planta (arbustiva ou arbórea) representativa de cada uma destas estações. Por exemplo, propomos o uso de um ou mais troncos na parte representativa do Inverno ou o uso de um arbusto perene na fase representativa do Verão, entre outros.
2. Um conjunto de cerca de 30 superfícies espelhadas de formas diferentes em altura e em largura, a determinar consoante as possibilidades no momento de concretização (espelhos, acrílicos, etc…), conseguindo-se vários graus de “fluidez” da luz natural incidente (dia) ou artificial (noite) – com efeitos diferentes de reflexão, difusão (entre outros) e com a disposição destes elementos num caminho imaginário em torno dos acessos de circulação dos visitantes permitindo, em simultâneo, tanto a obtenção de uma dimensão tridimensional escultórica como a integração e interacção com as peças mais importantes do conjunto – as pessoas, as nossas “flores” - que, graças à luz, interagem, se reflectem e multiplicam, por exemplo em número, cor, variedade, dimensão, forma e estilo.
3. Por fim, a marca do criador de espaços – o homem, que deixa a sua “impressão digital” nos espaços em que intervém, efeito que se consegue com o traçar de regos pouco profundos em círculos concêntricos, espaçados entre 50cm a 1m, em torno do ponto central do jardim. A perspectiva com que o observador interage com o jardim (que depende da posição relativa que este ocupa no seu entorno) faz com que tal efeito se assemelhe a uma verdadeira impressão digital. Como nota final pensamos que, facilmente, esta proposta se poderá adequar a qualquer espaço disponível, sendo de relativa facilidade a sua construção e a sua manutenção e que, fundamentalmente, pode contribuir para várias linhas de discussão inerentes e transversais à temática: o que é um jardim? E a Arte, o que é? Qual é o papel e importância da luz nos processos naturais? E as nossas cidades usufruem da luz necessária? Qual é o papel do homem na manipulação da natureza? Quais são os seus limites? (…)


Vila Real, 28 de Outubro de 2008
Bruno Sousa, Arqº Paisagista
Fernando Reis, Arqº Paisagista
Carina Fernandes, Estudante AP
Pedro Botto, Estudante AP

um pequeno vídeo da proposta ...

LINKS:

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Plano Geral da Proposta

Estudos

3D | Perspectivas| Vistas | Cortes

Estudo de Iluminação Nocturna

Promotor: CÂMARA MUNICIPAL DE PONTE DE LIMA.

Data de Entrega do Projecto ao Promotor: OUTUBRO DE 2008.

Data de Execução: proposta indeferida para o Festival de Jardins, Ed. de 2008/2009.

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